12 outubro, 2006

YES, TAMBÉM SOU POLÍTICA

Quem leu o artigo: “Yes, sou jornalista” poderá fazer um comparativo das mudanças que o tempo opera  nas pessoas. Há mais ou menos um ano atrás, utilizei de uma autocrítica defensiva e posicionamento ameaçador devido à necessidade de defender a liberdade de escrita, de pensamento, enfim, a tão propalada liberdade de expressão.Aqui com frases mais delicadas e o coração aberto quero contar como conheci a política atual do mundo em que vivo e como sobrevivi a ela.

É comum ouvir dizer que se aprende com a dor e que na derrota tiramos a melhor das lições, mas é preciso viver (a derrota) para entender seu significado. Foi com a derrota nas eleições municipais de 2004 que aprendi a ver o lado mau das pessoas, mas a partir daí foi que comecei a tirar lições para a vida inteira. Ensinamentos que não aprendi na infância, se bem que não tive infância, nem adolescência, pulei essas etapas. Não, não foi porque precisei trabalhar muito cedo. Nada disso, o trabalho sempre me proporcionou prazer por isso comecei a trabalhar aos catorze anos. Não tive infância, ou ela me faltou pela simples razão de ser filha única. Não me digam que filho único tem infância, todos sabemos que não. Mas também não fui única por opção de meus pais, quis o destino que eu perdesse todos os meus irmãos.

Também preciso deixar claro que não fui vitima do militarismo como sempre deixo transparecer em meus escritos. Afinal, na década de 70 eu era apenas uma criança e na década de 80, já me tornava mãe e esposa. Viu como pulei etapas? Somente na década de 90 voltei aos estudos e fui cursar direito. Foi na faculdade que tive os meus primeiros contatos com a ditadura através dos livros, O vermelho, de Mão Tse Tung; Pró e Contra Mão – O Julgamento da História de Bodino; O  Livro Verde Do Aiatolá Khomeini, com seus princípios políticos, filosóficos, sociais e religiosos; Tempo de Arraes, a revolução sem violência, de Antonio Callado; Caso Herzog; Por que Theodomiro fugiu, de Fernando Escariz; Obras de Che Guevara; Textos políticos, textos econômicos e A,B, Che, indo para Cuba para principiantes até Que é isso companheiro? Entre muitos outros. Para ser uma sobrevivente da era Geisel, no mínimo eu precisava ter nascido na década de 50, quando na verdade sou de 66.

(foto da candidata em 2004)Reporto-me novamente à década de 90 quando já como advogada passei a ter contato com o sofrimento e com as misérias humanas. Acho que foi ai que me descobri idealista até o último trago, impulsiva ao extremo não via outra maneira de ajudar aos menos bafejados pela sorte que não fosse através da política pura, porém equivocada para os meus tempos.Quando Edson Luis, o mártir foi assassinado com um tiro de pistola calibre 45, pelo tenente Alcindo Costa, eu tinha apenas 01 ano e 04 meses de idade. Portanto não podia ser da minha época e tampouco Fernando Henrique Cardoso, pois o mauricinho estudante de sociologia já dava aulas quando eu nasci. Mas me espelhei nessa época para escrever e assim formalizar meus contatos com a ditadura. Claro que não conheci Carlos Mariguela, sua história me foi apresentada por um jornalista que me apoiou e disse ter votado em mim.

Ai meu Deus como queria mudar o mundo, achava que poderia começar pelo meu mundo, pela minha cidade. Mas o pleito não se tratava de um concurso e até quem nunca saberá a diferença entre mandado e mandato pode se candidatar. Isso é a democracia e que se danem os que são como eu. Eram 180 pessoas disputando 10 cadeiras. Desses 180 cidadãos posso afirmar sem medo de errar que pouco mais de 03 pensavam ou pensam como eu.

A primeira coisa que fiz foi procurar um partido que fosse liberal como eu sonhava, graças a Deus não me aceitaram. Naquele dia descobri que a menininha que eu pensava ser, na verdade, metia medo em marmanjos bons de voto. Nada de Partidos Liberais. Foi a esquerda mesmo que me aceitou, me recebeu de braços abertos porque seu presidente à época se enganou ao pensar que a menininha era rica e lhe serviria como uma ótima galinha, calma, quis dizer, “galinha dos ovos de ouro”. Minha aparência o enganou ou minha descendência enganava bem às pessoas, meu parentesco com pessoas de posses assustava mas também ajudava. Estava pronta a política Eliz Saldanha Franco? A resposta é, talvez. Então dê-lhe “O Príncipe”; “A Arte da Guerra” e “Escritos Políticos de Maquiavel”. Ocorre, porém, que essa leitura necessária aos aspirantes de políticos, deve ser lida sem muita profundidade, né? Conta outra, fui a fundo e estudei a biografia de Nicolau Maquiavel vindo a descobrir nada mais nada menos que ele morreu pobre e no ostracismo. Estava decidido, não o seguiria por conhecê-lo demais. Queimei simbolicamente e de imediato todas as suas obras, seja emprestando para aqueles que seguramente não as devolveriam, seja doando para outros que queriam aprender a ser Príncipes. E nada de ser amada, nada de ser odiada, nada de ser temida, o que queria na verdade era servir, amar, doar. Opa, mas isso não serve na política. Idealistas e visionários podem ser líderes sem ocupar cargo eletivo. Isso também é democracia. Só que eu não sabia.

E fui à luta, ouvindo de vez em quando meus amigos e acompanhada sempre de um “tio emprestado”, um fiel escudeiro, 03 cabos eleitorais pagos (nunca foram pagos) pelo partido, um amigo vigilante e um fotógrafo que aparecia esporadicamente, sem me dar conta que apenas me fazia perguntas e pedia dinheiro (esse eu paguei com minhas próprias rendas). É nostálgico relembrar certas coisas, mas só depois de muito tempo é que entendemos o sentido delas.Foi numa manhã de maio de 2004 que por acaso encontrei um primo muito querido que sutilmente pediu para que não me candidatasse, justamente porque eu não tinha dinheiro o suficiente para gastar em uma campanha e que com certeza os outros passariam como tratores em cima de mim, mas se eu estava preparada para perder, que fosse, pois em eleição municipal não basta ter carisma, vontade e esforço próprio. É preciso ter dinheiro para gastar, mas muito dinheiro. Claro que não estava preparada, mas fui à luta pensando sempre em começar mudando o mundo através do meu próprio mundo. Veio a derrota e com ela a desilusão. Me fechei em copas e decidi me dedicar unicamente à minha família, filhos, marido e trabalho. No trabalho – sou funcionária pública – veio o primeiro embate com um assessor de um assessor que tentou em vão me prejudicar, mas fragilizada como estava acabei eu mesma me prejudicando ao discutir com uma autoridade que estava no poder recém chegado. Briguei, fui para casa e chorei, chorei e chorei.....maldisse o mundo e todos os que nele habitam. Entre uma lágrima e outra escrevi uma *carta ao jornalista, eleitor declarado que me deu as dicas sobre compra de votos e o modus operandi de alguns candidatos (Mas o pouco dinheiro que juntei acabei gastando nas reuniões e em segundos os adversários me passavam para trás, seja com dinheiro, seja com a maledicência. E, lá ia eu comprar remédios e pagar contas de luz de quem estava no escuro, para isso serviam as reuniões.). Meu amigo tentou me consolar dizendo que eu tinha um poder que desconhecia que era a imprensa e o poder de expressão, coisa que faltava aos “vencedores”. Naquele dia “me convenci”, não é só o Lulla que se convence, que perdi uma cadeira, mas poderia ter dez nas mãos. E o que fiz? Simples, escancarei minha vida, criei um blog, abri um perfil no site de relacionamentos orkut, passei a escrever para sites e para um jornal local, entrevistei pessoas famosas, usei a Tribuna Livre da Câmara Municipal para obter benesses para entidades não governamentais e estudei mais e mais, percebi, então, que a ignorância de alguns, a maldade de outros e a falta de vontade de mais alguns poderiam me ser úteis. Venci pela argumentação, me tornei forte e serena. Primeiro passo depois que atingi o poder almejado foi procurar a autoridade que havia me desentendido e pedi desculpas por ele haver me prejudicado, afinal a culpa não foi dele, foi minha e do assessor de assessor, ébrio e acabado. Redescobri meu trabalho, fiz as pazes com os “inimigos” e atualmente, minha vida profissional passa pela sua melhor fase.No Orkut que recebe em média 250 visitas por semana, nesta cidade de pouco mais de 60 mil habitantes, está o meu perfil em forma de letras musicais, uma música cantada por Chico Buarque e outra por Mercedez Sosa, com a versão em português de Renato Teixeira. Os dois primeiros não fazem parte da minha geração musical, que foi na verdade, RPM, Biquíni Cavadão, Kid Abelha, A cor do som, Titãs, Engenheiros do Hawai, Lulu Santos, Zizi Possi, Renato Russo entre outros dos anos 80. Meu cantor preferido, só quem me conhece bem sabe que é Djavan, mas não estou nas comunidades dele. É isso, meu blog leva para o mundo virtual os meus pensamentos e a minha coluna semanal.

A propósito, meu velho e adorado “tio emprestado” me telefona de vez em quando e pergunta para onde vamos e sempre recebe a seguinte resposta: “para onde o vento nos levar, tio, para onde o vento nos levar”. O fiel escudeiro buscou um trabalho remunerado que eu não posso lhe dar; o vigilante que vez ou outra colocava R$10,00 de gasolina para a campanha, segue sendo vigilante, é a profissão dele: vigilante e idealista, já o fotógrafo, bem, o fotógrafo era espião da parte contrária (nem acredito que eu merecia até um espião) obteve um cargo temporário na Prefeitura onde trabalho.

E mais, dia desses o antigo inimigo me chamou em seu gabinete para uma conversa de trabalho, na saída me sorriu um sorriso cordial, não disse cardial, não espero nada dele com relação a minha pessoa que possa vir do coração, mas sua cordialidade me basta. Ao dirigir-me até seu gabinete errei e abri a porta da sala de um assessor de assessor, não o ébrio, outro que possui o rei na barriga, ou 10 reis a julgar pelo seu abdômen gigantesco. Nossa, que olhar desdenhoso lançou ele sobre mim, mas em troca lhe ofereci um sorriso e ao regressar para minha sala acabei por sentir uma presença incomoda no corredor, era o fotógrafo traidor, também lhe sorri o meu sorriso mais bonito e pensei: Ah pobre coitado, tanto você quanto o assessor paquidérmico, não sabem que neste mundo tudo passa, até uva passa.

Agora estou em paz comigo mesma, meus projetos se realizam dia-a-dia. Estou caminhando para frente onde caminham os que sabem amar ao próximo. Pensando bem, a música para o meu perfil deveria ser “coração pirata”. Mas, lógico, as pessoas ainda me enganam. Ainda acredito na possibilidade de um mundo justo e sincero. Ainda amo os amigos e se tenho inimigos não sei. Continuo sendo idealista, amada por uns, invejada por outros, mas nada me atinge. Quem decidiu escancarar a vida fui eu e repito, estou em paz, porque agora.....Yes, eu sou política

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* Carta ao Jornalista (novembro de 2004)

“Companheiro”, se me permite assim lhe chamar.Era final dos anos 70, eu ainda adolescente, filha de militar, gostava de ler contos de “Alan Poe”, sonhos de “Richard Bach” e poemas de “Gibran”, até que um colega me presenteou com os textos políticos de “Che Guevara”, foi quando meu pai substituiu imediatamente a leitura por “MARÇO” de Adirson de Barros, uma ode a Geisel e a Revolução Brasileira. Àquela época, cada um já sofria a sua repressão, eu sofri a minha e certamente à época o jovem colega já lutava pela liberdade de expressão. Se ontem, subversivos, hoje, livres, por isso companheiros.Meados de 2004, durante os últimos três meses, marchei pelos bairros de nossa cidade e passei a mão a cada cidadão pontaporanense dizendo: muito prazer, meu nome é Eliz e estou aqui para te pedir ajuda, sou candidata à vereadora.Foi uma campanha eleitoral diferente, sim foi. Não foi demagógica.Faltou dinheiro? Não. Será comprovado que não houveram gastos. Não montei uma grande equipe, nada de comitês, sem “jingles”, “vans”. Tenho sim pessoas, muitas pessoas que lutam por ideais de igualdade e de liberdade de expressão.Estás a imaginar que sou sonhadora, companheiro? Então citarei Gibran: “Prefiro ser simples sonhador entre os humildes, que esperam realização de seus sonhos, do que ser senhor entre os que não têm sonhos ou nada desejam.”Mas nesta idade o sonho quase já não me é permitido, pois houveram momentos, meu amigo, que alguns abutres acharam que vantagem material os levariam comigo a algum lugar, mas não troquei meu sono tranqüilo, o sono dos justos, em troca de qualquer coisa que lembre a indignidade. Não escolhi palanque por vantagens pessoais, mas sim apóio quem é digno da confiança. Não aceito nada de quem nunca apoiou a liberdade de expressão, de quem oprime pensamentos e reprime os mais fracos.Aceito somente a confiança das pessoas que representaria na Câmara e de políticos honestos, como eu.Sei que apresentei excelentes idéias, haja vista que, embora de forma tardia algumas estejam sendo copiadas por àqueles que há muito já ocupam cargos eletivos.Por amor a Ponta Porã esta Campanha foi praticada em conformidade com a Lei, por isso já resultou vitoriosa, independentemente da derrota.

Nas palavras de Victor Hugo: “No Hay pueblo pequeno. La grandeza de um pueblo no se mide por el número, así como el valor de um hombre no se mide por la estatura. La única medida es la cantidad de inteligência, la cantidad de virtud. El que da grande ejemplo, es grande....Nada de palavras vanas. No basta ser república: es preciso ser la libertad; no basta ser la democracia; es preciso ser la humanidad.”***********************************************************************************




LETRA DA MÚSICA CORAÇÃO PIRATA
O meu coração pirataToma tudo pela frente
Mas a alma adivinhaO preço que cobram da gente
E fica sozinha
Levo a vida como eu quero
Estou sempre com a razão
Eu jamais me desespero
Sou dono do meu coração
Ah! o espelho me disseVocê não mudou
Sou amante do sucesso
Nele eu mando nunca peço
Eu compro o que a infância sonhou
Se errar eu não confesso
Eu sei bem quem sou
E nunca me dou
Quando a paixão não dá certo (não há porque me culpar)
Eu não me permito chorar (já não vai adiantar)
E recomeço do zero
Sem reclamar
As pessoas se convencem
De que a sorte me ajudou
Mas plantei cada sementeQue o meu coração desejou!!
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Um comentário:

Tabita Medeiros disse...

Uma Guerreira ... Uma Vencedora!

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